Equipamento: Canon 70 D, foco manual e Lente 650-1300mm – Telefoto Zoom T-Mount – Tripé Davis & Sanford FM18 Fluid Head
Foi na véspera do meu aniversário, em 2014, que fotografei pela primeira vez a chamada “Super Lua”, da janela de meu home office.
Em poucos minutos, de um lindo prateado, a Lua dourou. Um lindo fenômeno que registrei pela derradeira vez, pois, nos anos seguintes, o céu nublado de São Paulo impediu.
Estas belas imagens ainda me comovem, tanto que ainda as reproduzo em minhas telas:
Tela: Asas Dos Desejos – Artista: Henrique Vieira Filho
Exposição Mil Tsurus
Tela: Berlin Wall – Artista: Henrique Vieira Filho
Exposição Wall – Muros Emocionais e Sociais
Tela: Polimetropolis – Artista: Henrique Vieira Filho
Pocket Exhibition – São Paulo: Cidade Diva No Divã
Hoje, 31 de janeiro de 2018, seremos contemplados com uma versão “Hiper Lua”, a qual, além de cheia e especialmente próxima à Terra, ainda somará um eclipse!
É muita inspiração a todos os românticos, artistas e astrólogos!
Henrique Vieira Filho homenageia a Cidade de São Paulo com uma série de crônicas e telas (pintura em técnica mista). Nesta divertida ficção, São Paulo está em sua SEGUNDA sessão de Terapia Holística (psicanálise, acupuntura, vivências, arteterapia, fototerapia…), culminando em que a cidade pinta seu autorretrato, como parte da arteterapia.
Cidade Diva No Divã
São Paulo Em Terapia – Segunda Sessão
FC – Ficha de Cliente – De acordo com a NTSV – TH 003
Henrique Vieira Filho – Terapeuta Holístico – CRT 21001
Nascimento: 25 de janeiro de 1554 (obs.: esta é a data oficial; a Cliente esclarece que o dia exato, nem ela lembra, mas que foi em 1520…)
Apontamentos:
Esta é a segunda sessão com minha nova Cliente, que é uma charmosa e hiperativa senhora quatrocentona…
Desta vez, trouxe uma foto nova para a ficha, onde uma de suas filhas a acompanha; creio que será uma boa pauta para Fototerapia…
Terapeuta:
_ Fale um pouco sobre a foto que escolhe para sua ficha.
Cidade:
_ Nem lembro se já te contei: eu tenho MILHÕES de filhos! Tanto os naturais, quanto os migrantes, amo-os sem distinção! Só que são tantos que nem dou conta… Aliás, é impossível encontrar uma foto em que esteja sozinha!
Terapeuta:
_ O que lhe chama a atenção nesta imagem?
Cidade:
_ Ah, essa menina! É uma exibicionista! E ainda tem mania de grandeza: se acha uma gigante, mesmo sendo pequenina… Deveria ser mais comportada, nesta idade! Não é mais uma jovenzinha!
Terapeuta:
_ Hum… Compreendo…
Cidade:
_ Até já sei o que está pensando! Esqueceu que já passei por psicanálise, antes? Deve estar achando que estou “projetando” minha característica na menina…
E que eu é quem não é mais “jovenzinha” pois faço aniversário agora…
Terapeuta:
_ É uma hipótese em que deve pensar e sentir com a justa atenção…
Cidade:
_ Seu colega fazia a mesma coisa! Ele é quem “projetava” em mim o que via em meus filhos!
Cito aqui, as palavras dele*:
“Assim, justamente por ser histérica, São Paulo é:
Depressiva, como um antigo sobrado pichado, numa rua desfigurada e quase inabitável, por ter-se tornado via de acesso a uma marginal. Maníaca, como a corrida de três peruas da Rota, das quais não se sabe se estão atrás de alguém ou apenas tentando se (e nos) convencer de que estão agindo. Narcisista, como a barulhenta parada de dois motoqueiros na frente do bar Filial (na Vila Madalena), só o tempo necessário para certificar-se de que suscitaram alguma inveja nos outros varões que estão tomando chope na calçada. Fóbica, como aquele motorista de táxi que, no fim dos anos 80, me disse que passava um pano com álcool no banco traseiro quando levava alguém para o Emílio Ribas. Ou como a lavagem cotidiana das calçadas das mansões. Paranóica, como o insufilme dos carros blindados e das guaritas de segurança ou como os cacos de vidro em cima dos muros ao redor das casas. Louca, como a aposta dos motoboys, que acreditam que os motoristas nunca mudarão de faixa. Esquizofrênica, como os fragmentos que, sem organizar-se numa história, desfilam na fala entrecortada dos moradores de rua mais agitados e perdidos. Obsessiva, como a vontade de saber que Deus existe (mas não nos escolheu) que transparece na obstinação dos jogadores de bingo, dos apostadores do Jockey e dos pilares das casas lotéricas. Psicopata, como o vizinho decidido a nos impor sua música, como o bando de jovens exultantes ao constatar o medo que inspiram, como o motorista que buzina para assustar e sustar os passantes, como o cara que tenta passar à frente na fila do cinema. Dissoluta (perversa, diriam os que entendem pouco de clínica), como os cantos escuros do Ibirapuera à noite ou como os cinemas do largo do Arouche”
(Trechos da crônica “São Paulo No Divã”, de Contardo Calligaris, para a Folha de São Paulo, em 2005)
Viu, só? Ele me confunde com meus filhos! E não foi nada lisonjeiro!
Terapeuta:
_ Na Terapia Holística não necessitamos rotular os Clientes, nem os classificar em padrões pré-determinados: cada qual é único… Contudo, o fato de ter te magoado tanto (a ponto de “decorar” a fala!) é significativo, indicando uma possível “negação” de algumas de suas facetas…
Cidade:
_ Era só o que me faltava! Vai dizer que meus filhos “herdaram” isso tudo comigo? Eu cuidei deles o melhor que pude! Aqueles ingratos! Sabe o que a maioria deles faz no MEU aniversário? Me deixam sozinha! S-O-Z-I-N-H-A! Saem todos de casa e vão visitar minhas irmãs!!! Vão todos para as casas das tias Rio, Salvador, Recife! Ingratos! Ingratos!
Terapeuta:
_ Deixe vir a emoção… Sem reprimir… A “catarse” pode ser um bom começo para lidarmos com estas questões…
Cidade:
_ Às vezes, emerge um ódio… Me dói saber que me deixam sozinha, bem no meu aniversário e ainda vão “puxar-o-saco” das tias! Faço bolo, festa, desfile, exposições, eventos artísticos e eles nem ligam!
Terapeuta:
_ Você já contou aos filhos como se sente?
Cidade:
_ Não quero dar o braço a torcer… E sempre tem aqueles filhos que ficam e aproveitam que boa parte dos irmãos não estão e aproveitam ao máximo! Ai, eu me distraio um pouco desta frustração e acabo até me divertindo! Ufa! Desabafei! Parece que me livrei de um “peso”!
Terapeuta:
_ Isso é bom! Claro, ainda há muito o que compreender e “digerir”… E ainda haverá ocasião de trazermos de volta à pauta, a hipótese das “projeções” de características entre mãe, filhos e terapeutas… Para o momento, vamos em mais uma atividade em Arteterapia!
Cidade:
_ Desta vez, vou pintar eu e meus queridos filhos!
Tela concebida pela Cliente “Cidade de São Paulo”, na sequência de sua segunda consulta…
Henrique Vieira Filho homenageia a Cidade de São Paulo com uma série de crônicas e telas (pintura em técnica mista). Nesta divertida ficção, São Paulo está em sessão de terapia holística (psicanálise, acupuntura, vivências…), culminando em que a cidade pinta seu autorretrato, como parte da arteterapia.
Cidade Diva No Divã São Paulo Em Terapia – Primeira Sessão
FC – Ficha de Cliente – De acordo com a NTSV – TH 003
Henrique Vieira Filho – Terapeuta Holístico – CRT 21001
Nome / Cliente: Cidade de São Paulo Endereço: Latitude: -23.5489, Longitude: -46.6388 23° 32? 56? Sul, 46° 38? 20? Oeste Nascimento: 25 de janeiro de 1554 (obs.: esta é a data oficial; a Cliente esclarece que o dia exato, nem ela lembra, mas que foi em 1520…) Apontamentos: Minha nova Cliente é uma charmosa e hiperativa senhora quatrocentona… Apesar de desconfiar que sua foto na ficha está desatualizada… Nesta nossa primeira sessão, pontuou que, às vésperas de seu aniversário, considera que chegou o momento de re-investir em autoconhecimento. Cidade: _ Eu já passei por terapia, faz algum tempo, com um psicanalista, colega seu… Só não concordo com tudo o que ele analisou! Até me chamou de histérica! Terapeuta: _ Talvez ele tenha dito que sua personalidade é do tipo histérica, ou seja, que se percebe como irresistível a todos, sedutora por seu potencial, por suas oportunidades. Cidade: _ Acalento o sonho de tantos, mas, sei que também posso virar pesadelo. Sou uma quatrocentona cheia de charme! Quando desfilo pelo mundo, ornada com o Masp, o Teatro Municipal, a Estação da Luz, a Ponte Estaiada… Hum… Sabia que até o Tom Jobim cantou que me amava? Mas, linda mesmo, eu era quando menina! Terapeuta: _ Me fale sobre a sua infância… Cidade: _ Bons tempos, aqueles! Minha beleza não era construída, como hoje em dia… Era totalmente natural! Florestas densas, animais exóticos, rios, muito sol… Fui revolucionária: a primeira dentre as minhas irmãs a morar no interior! Todas as demais nasceram e cresceram junto ao mar… Eu me aventurei pelas matas e me estabeleci em uma colina circundada por dois rios, o Tamanduateí e o Anhangabaú, que fechavam um delta com uma enorme área alagada: as várzeas do Carmo e do Glicério. Eu era como uma ilha! Sabia que o Padre Anchieta teve que vir de barco para me batizar?… Terapeuta: _ Como é a relação com suas irmãs? Cidade: _ Elas me criticavam muito… Diziam que eu era louca de morar no interior, com tantas praias que ainda faltavam desbravar… Minhas irmãs tinham porto, navios para o comércio, estavam fazendo fortunas e se vangloriando! Só que eu provei para elas que sou tão boa quanto! Dei duro, trabalhei sem descansar, sem dormir e me tornei esta megalópole que você conhece! Mostrei para elas todas que eu não precisava de oceano, coisa nenhuma! Terapeuta: _ Notei a sua pausa reflexiva… Creio que você teve o que chamamos de “insight”… Cidade: _ Minha autoestima estava frágil com essa questão de não ter oceano… Acabei por negligenciar e negar as minhas próprias águas! Cobri meus rios com vastas avenidas… Sabia que dois terços delas correm sobre os antigos caminhos das águas? De tanto me infernizar com as minhas irmãs/rivais do litoral, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, a minha relação com minhas águas foi indo de pacífica, com direito a regatas no rio Tietê, para uma investida furiosa contra os rios, riachos e córregos. Quis apagar as águas até o último vestígio! Terapeuta: _ Respire fundo… Deixe vir as emoções… Os “insights” são assim: uma infinidade de informações em uma fração de segundo; levará algum tempo para “digerir” e elaborar tudo. Cidade: _ E então, meu caro terapeuta… Vai me aplicar acupuntura? Recomendar uns florais de Bach? Reflexoterapia? Arteterapia, quem sabe?… Terapeuta: _ Possivelmente, uma mescla destas técnicas…. Notei mesmo essa zona reflexa, aqui na região da Cracolândia necessitando de alguma atenção; uma “acupuntura”, só que SEM agulhas, pode ajudar… No mais, creio que a Arteterapia será um bom caminho para ampliar a consciência perante o “insight” de hoje e os futuros, que certamente virão… Cidade: _ Minha personalidade “histérica” está retomando: pintarei um autorretrato!
Tela concebida pela Cliente “Cidade de São Paulo”, na sequência de sua primeira consulta…
Título: “Polimetropolis” Artista: Henrique Vieira Filho Técnica: Mista Tamanho: 120 cm x 80 cm Ano: 2018
Henrique Vieira Filho homenageia a Cidade de São Paulo com uma série de crônicas e telas (pintura em técnica mista). Nesta divertida ficção, São Paulo está em sessão de terapia holística (psicanálise, acupuntura, vivências…), culminando em que a cidade pinta seu autorretrato, como parte da arteterapia.
Cidade Diva No Divã São Paulo Em Terapia – Primeira Sessão
FC – Ficha de Cliente – De acordo com a NTSV – TH 003
Henrique Vieira Filho – Terapeuta Holístico – CRT 21001
Nome / Cliente: Cidade de São Paulo Endereço: Latitude: -23.5489, Longitude: -46.6388 23° 32? 56? Sul, 46° 38? 20? Oeste Nascimento: 25 de janeiro de 1554 (obs.: esta é a data oficial; a Cliente esclarece que o dia exato, nem ela lembra, mas que foi em 1520…) Apontamentos: Minha nova Cliente é uma charmosa e hiperativa senhora quatrocentona… Apesar de desconfiar que sua foto na ficha está desatualizada… Nesta nossa primeira sessão, pontuou que, às vésperas de seu aniversário, considera que chegou o momento de re-investir em autoconhecimento. Cidade: _ Eu já passei por terapia, faz algum tempo, com um psicanalista, colega seu… Só não concordo com tudo o que ele analisou! Até me chamou de histérica! Terapeuta: _ Talvez ele tenha dito que sua personalidade é do tipo histérica, ou seja, que se percebe como irresistível a todos, sedutora por seu potencial, por suas oportunidades. Cidade: _ Acalento o sonho de tantos, mas, sei que também posso virar pesadelo. Sou uma quatrocentona cheia de charme! Quando desfilo pelo mundo, ornada com o Masp, o Teatro Municipal, a Estação da Luz, a Ponte Estaiada… Hum… Sabia que até o Tom Jobim cantou que me amava? Mas, linda mesmo, eu era quando menina! Terapeuta: _ Me fale sobre a sua infância… Cidade: _ Bons tempos, aqueles! Minha beleza não era construída, como hoje em dia… Era totalmente natural! Florestas densas, animais exóticos, rios, muito sol… Fui revolucionária: a primeira dentre as minhas irmãs a morar no interior! Todas as demais nasceram e cresceram junto ao mar… Eu me aventurei pelas matas e me estabeleci em uma colina circundada por dois rios, o Tamanduateí e o Anhangabaú, que fechavam um delta com uma enorme área alagada: as várzeas do Carmo e do Glicério. Eu era como uma ilha! Sabia que o Padre Anchieta teve que vir de barco para me batizar?… Terapeuta: _ Como é a relação com suas irmãs? Cidade: _ Elas me criticavam muito… Diziam que eu era louca de morar no interior, com tantas praias que ainda faltavam desbravar… Minhas irmãs tinham porto, navios para o comércio, estavam fazendo fortunas e se vangloriando! Só que eu provei para elas que sou tão boa quanto! Dei duro, trabalhei sem descansar, sem dormir e me tornei esta megalópole que você conhece! Mostrei para elas todas que eu não precisava de oceano, coisa nenhuma! Terapeuta: _ Notei a sua pausa reflexiva… Creio que você teve o que chamamos de “insight”… Cidade: _ Minha autoestima estava frágil com essa questão de não ter oceano… Acabei por negligenciar e negar as minhas próprias águas! Cobri meus rios com vastas avenidas… Sabia que dois terços delas correm sobre os antigos caminhos das águas? De tanto me infernizar com as minhas irmãs/rivais do litoral, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, a minha relação com minhas águas foi indo de pacífica, com direito a regatas no rio Tietê, para uma investida furiosa contra os rios, riachos e córregos. Quis apagar as águas até o último vestígio! Terapeuta: _ Respire fundo… Deixe vir as emoções… Os “insights” são assim: uma infinidade de informações em uma fração de segundo; levará algum tempo para “digerir” e elaborar tudo. Cidade: _ E então, meu caro terapeuta… Vai me aplicar acupuntura? Recomendar uns florais de Bach? Reflexoterapia? Arteterapia, quem sabe?… Terapeuta: _ Possivelmente, uma mescla destas técnicas…. Notei mesmo essa zona reflexa, aqui na região da Cracolândia necessitando de alguma atenção; uma “acupuntura”, só que SEM agulhas, pode ajudar… No mais, creio que a Arteterapia será um bom caminho para ampliar a consciência perante o “insight” de hoje e os futuros, que certamente virão… Cidade: _ Minha personalidade “histérica” está retomando: pintarei um autorretrato!
Tela concebida pela Cliente “Cidade de São Paulo”, na sequência de sua primeira consulta…
Título: “Polimetropolis” Artista: Henrique Vieira Filho Técnica: Mista Tamanho: 120 cm x 80 cm Ano: 2018
A humanidade desenvolveu CALENDÁRIOS como uma tentativa de compreender, prever e até conquistar o TEMPO e, assim, acalmar boa parte de nossos temores quanto a este conceito que parece fluir em constante fuga, sendo a distância entre a causa e o efeito de tudo que presenciamos. Estabelecer e seguir um calendário é adquirir a sensação de segurança, de integrar-se ao ritmo do Universo e esta iniciativa é milenar e comum a todas as culturas. Existe uma infindável variedade de medições do tempo conhecidas, destacando-se os calendários egípcio, grego, asteca, romano, maçônico, revolucionário (relativo à Revolução Francesa de 1789), chinês, muçulmano, gregoriano….
O que existe em comum é a tentativa de marcar no tempo, pontos de referência que relacionados aos fenômenos naturais, cuja evolução e repetição periódica são passíveis de observação.
Organizar o tempo é ter-se a impressão de dominar, através da regulamentação, aquilo a que não se pode escapar.
É possuir um meio de marcar as etapas da própria evolução humana, exterior ou interior, e de celebrar, ao mesmo tempo, numa data fixa, tudo aquilo que faz lembrar as relações do homem com os deuses ou o cosmo, ou com os mortos.
A contemplação de um calendário evoca o perpétuo reinício. Ele é o símbolo da morte e do renascimento, assim como da ordem inteligível que preside ao escoamento do tempo; é a medida do movimento.
(Extraído de CHEVALIER, Jean – Dictionnaire des Symboles. Paris, Éd. Robert Laffont S.A. e Ed. Júpiter, 1982)
Por serem mais curtos e mais fáceis de observar, os ciclos lunares formaram a base dos calendários de muitas culturas. O ciclo solar é mais complexo, exigindo estágios culturais mais avançados para serem adotados.
O calendário egípcio antigo já era bem elaborado e perfeitamente adaptado às necessidades locais: ano de 365 dias, dividido em 12 meses de 30 dias e mais 5 dias adicionais, sendo os meses, agrupados em três estações: inundação, inverno, verão.
Dias e noites são divididos em 24 horas, que a astronomia helenística sub-dividirá em 60 minutos, de acordo com o sistema sexagesimal que é de origem babilônica.
Já entre os primeiros hebreus, o sistema era lunar, herdado dos fenícios, porém, no período bíblico, passou a ser solar.
Via de regra, o calendário está em paralelo com os ciclos da natureza.
Porém, a modernidade impôs, de forma global, uma uniformidade COMERCIAL, sendo adotado um mesmo padrão em todo o mundo, ignorando-se a falta de sincronismo com os eventos naturais.
Por exemplo:
Enquanto o “fim de ano”, no Hemisfério Norte, está em sincronia com o INVERNO, ou seja, o período de declínio energético, do risco de morte, das adversidades da natureza, seguido na PRIMAVERA, como ponto de partida de um “ano novo”, aqui no Brasil, temos que nos convencer que o ciclo “acabou” justamente no VERÃO, ou seja, quando estamos no auge da energia e deveríamos estar no máximo da ação…
Boa parte do calendário atualmente adotado, deriva dos modelos juliano (homenagem ao imperador romano Júlio Cezar…) e gregoriano (dedicado ao papa Gregório…).
Para melhor compreender os significados simbólicos atribuídos a cada mês, existe uma interessante série de poemas escritos por Públio Ovídio Nasão (Publius Ovidius Naso), em seu livro Fastos, onde descreve as festas religiosas romanas, dos seis primeiros meses do ano.
Mesmo sendo um autor “pagão”, Ovídio permaneceu na lista de literatura “permitida” pelo Vaticano do século XII.
O mês de Janeiro, Ianuarius mensis, em latim, era dedicado ao deus Jano, protetor de todos os começos, representado com duas faces, uma voltada ao passado, outra, ao futuro, sendo conhecedor de tudo o que já ocorreu ou que virá a acontecer.
Februarius mensis, ou, Fevereiro, é o mês reservado às cerimônias de purificação e expiação denominadas Februa, não sendo dedicado exclusivamente a nenhuma divindade em especial.
Março, Martius mensis, relativo a Marte, deus guerreiro, era o mês inicial do antigo calendário romano, pois era considerado o pai mitológico de Rômulo, primeiro rei de Roma, além de preparar para a primavera (hemisfério norte…) que aflora no mês seguinte, ou seja, Abril (Aprilis, aperire), que significa ABRIR, período dedicado a Vênus, deusa da fertilidade, do amor; também, são homenageadas as deusas Flora, Vesta e Ceres.
O mês de Maio (Maius mensis, em latim), possui variadas versões quanto à etimologia: ou deriva da deusa Maia, mãe de Mercúrio, como também pode originar de “aos Maiores” (Maius), ou seja, período dedicado aos mais velhos, aos antepassados.
Por sinal, esta versão corrobora a de que Junho (Iunius, iuvenis = jovens, juniores…) fosse um período em homenagem aos jovens; outrossim, também pode ser atribuído à deusa romana Juno, que é assemelhada à poderosa Hera, da mitologia grega.
Alguns estudiosos associam ao verbo iungo, que significa juntar, unir, pelo fato de ser este mês atribuído ao da unificação entre os romanos e os sabinos (após o episódio do “rapto das sabinas”…).
Os meses de Julho e Agosto homenageiam os imperadores romanos Júlio e Augusto, iniciando-se, a partir deste ponto, a nomeação sequencial numérica para os demais (antes de Júlio Cezar, o calendário era subdivido em 10 meses…):
Setembro (mense septembri, relativo ao numeral “sete”), Outubro (Octóber mensis, oito…), Novembro (novembris, nove…) e Dezembro (decèmber, dez…).
Como podemos constatar, nosso calendário atual é povoado por deuses, imperadores e algarismos romanos e certamente existe uma SINCRONICIDADE entre tais tópicos e as predisposições comportamentais de cada mês…
Se nas regiões Norte de nosso planeta, ainda existe uma cerca sincronia entre o significado de cada mês e as estações do ano, tornando mais fácil o entendimento, ainda assim, por força da globalização que padronizou as medições do TEMPO, perdeu-se a relatividade e universalizou que dezembro é o FIM (ainda que no Brasil, seja VERÃO e não inverno…) de um ciclo, que re-INICIA em janeiro (que aqui, ainda é verão, ao invés de PRIMAVERA…).
Na antiguidade, os povos comemoravam o término do período difícil, de tempo frio, neve, isolamento, falta de alimento, alegrando-se com a volta do calor, da abundância de recursos, do retorno às atividades, ao desabrochar da vida…
Modernamente, continuamos a celebrar, não mais pela sintonia de nossas emoções com a natureza à nossa volta, mas sim, muito mais por adaptações religiosas às datas festivas “pagãs” e pela pressão social que impõe a todos seu calendário COMERCIAL padrão.
Outrossim, não raro, muitos de nós sentem- se desconfortáveis, até mesmo envoltos em emoções “contra a corrente” do momento, vivenciando tristeza, raiva, medo…
Talvez,interiormente, estejam ainda em pleno FOGO de verão, desejosos em realizar sonhos, em materializar objetivos, enquanto o restante da sociedade lhe despeja um balde de gelo invernal, dizendo: acabou-se o TEMPO…
O mito de Jano, o rei-deus guardião de Saturno/Cronos (o tempo…), homenageado, não por acaso, em Janeiro (início dos anos…) nos apresenta um rosto voltado para o passado, outro, ao futuro e uma fusão que ocorre no exato momento da passagem entre os extremos, o NEXO, instante fora do tempo e espaço, em que é sentida intensa comoção pelo término de um ciclo de vida.
O sofrimento experienciado por muitos de nós, é consequência da permanência no Nexo, refúgio desconfortável onde se ilude eternizar aquilo que é efêmero, passageiro….
É o complexo saturnino, descrito na Psicanálise, com a recusa de “perder”, de deixar passar, aquilo a que nos ligamos sucessivamente na vida, evocando o outro lado do mito de Cronos, em que devora seus próprios filhos.
Jano toma conta do TEMPO, sem jamais pretender dominá-lo ou detê-lo.
É igualmente o senhor dos portais, das entradas e saídas, e ao fechar uma porta, simultaneamente abre outra…
Sofremos por insistir no caminho já trilhado e agora fechado, deixando de perceber a nova porta aberta, à espera de nossa passagem por ela.
Ainda que sem sincronia perfeita com a natureza (individual e ambiental…), que o calendário que, não por acaso, adotamos, bem nos sirva para cerrar, como chave-de-ouro, as portas deste ano e para abrir o novo ciclo.
Esses são os votos de um feliz rito de passagem, de seu colaborador junguiano e sem nexo.
HENRIQUE VIEIRA FILHO
Artista Plástico, Psicanalista
Autor de diversos livros, centenas de artigos, palestrante, docente, articulista colaborador em diversos veículos de comunicação.