Artigo publicado originalmente no Jornal O Serrano, em 26 de novembro de 2021 – 6282 – CXIII
Dias 27 e 28/11- Espetáculo “Romeu’s e Julieta’s”. apresentado pela Cia De Dança Alllegro e a Exposição “Dança Das Cores”, com pinturas de Henrique Vieira Filho
A Arte está em toda parte, tão inserida em nosso dia-a-dia, que nem sempre percebemos. Nestes tempos de pandemia, quanto conforto recebemos por meio de livros, filmes, séries e música, acalentando nossos corações.
Nos recentes dias, muitos de nós saímos às ruas para apreciar as luzes e decorações natalinas e retornamos mais leves, sorridentes, com uma sensação boa.
A iluminação temática, os retalhos tricotados, os arranjos de plantas ornamentais também são formas de Arte.
O resultado final, que tanto encanta, só é obtido graças a muito estudo e dedicação.
Quem assiste à beleza dos movimentos dos dançarinos, nem sempre faz ideia dos anos de estudos, ensaios e o preço físico e emocional investido.
Os pés desta foto poderiam ser de qualquer dos mais de 80 bailarinos que estarão no Centro de Convenções, neste final de semana. Foram anos de estudos e meses de ensaios e treinos para trazer para nós o espetáculo “Romeus’s e Julieta’s”!
Até mesmo as artes plásticas, que não demandam tanto esforço físico, igualmente exigem bastante do artista. Cito aqui uma colega a qual, quando lhe perguntam quanto demorou para terminar esta ou aquela pintura, ela responde: “cerca de 50 anos”, pois ela soma os anos de aprendizado técnico e amadurecimento pessoal que necessitou para atingir o patamar atual em seus trabalhos.
Inclusive, a espera de secagem da tinta pode ser angustiante: uma pintura a óleo sobre tela leva mais de seis meses para poder ser manuseada!
Por sinal, o termo “vernissage” é utilizado para nomear a inauguração de exposições, pois, ao menos antigamente, o pintor estaria terminando de passar o verniz nas obras, para apresentar ao público.
Bem, chegou o momento de justificar o título desta crônica! Boa parcela de nós, brasileiros, temos curiosidade sobre tradições e “simpatias”, como, por exemplo, a escolha de cores de roupas para a passagem de ano.
Chegou a minha vez de criar duas novas, aqui em Serra Negra: para reforçar o amor em sua vida, tem que assistir à peça “Romeu’s e Julieta’s” e, para ter um desejo atendido, tem que pedir junto à pintura “1000 Tsurus”, pois nela estão pintados mil origamis, conforme pede a tradição japonesa.
E a simpatia fica muito mais poderosa, pois junto ao valor simbólico do ingresso, você deve trazer 1 kg de alimento não perecível, para doação ao Fundo Social de Solidariedade.
Os ingressos podem ser adquiridos na Escola Talento ou na bilheteria do evento, dias 27 e 28/11/2021, no Centro deConvenções Circuito das Águas (Rua Nossa Sra. do Rosário, 630 – Serra Negra – SP): Espetáculo“Romeus’s e Julieta’s” e Exposição “Dança Das Cores”
Faz alguns anos participei com meus trabalhos fotográficos, do livro “Les Brésiliens vus par les Brésiliens” (Os Brasileiros vistos pelos Brasileiros), lançado em Paris.
O tema que escolhi é o título deste artigo,pois, neste meu projeto, o biotipo étnico de cada indivíduo, ainda que possa predominar em uma direção, jamais nega a miscigenação de nosso povo e a orientação de vida de cada um, que transcende a própria tradição ancestral.
No citado livro de fotografias, retribuí à França um favor que ela me fez na adolescência: o contato com a cultura afro-brasileira!
Quando adolescente, me identifiquei com uma forma de luta francesa, chamada Savate, técnica que foi inicialmente praticada por marinheiros e chegou a ser a arte marcial militar oficial daquele país, no século XIX. Autodidata e sem ter onde aprofundar na técnica, fui acolhido em outra linha marcial com muitos movimentos semelhantes e que, na verdade, é de origem anterior e bem brasileira: a Capoeira.
Entre os anos 80 e 90. o Brasil estava, literalmente, exportando Capoeira para o mundo todo, em especial, aos EUA. Desde seriados de televisão, como “Kung Fu”, até filmes inteiros sobre o tema (por exemplo: “Esporte Sangrento”), pudemos assistir a havaianos, mexicanos, afro-americanos e até “alienígenas” (série Stargate – SG1) encarnando capoeiristas!
Enquanto alguns podem interpretar que tiveram sua cultura usurpada, outros levarão em consideração fatores positivos, como a divulgação a um público amplo e a abertura de postos de trabalho para capoeiristas que coreografaram e ensinaram a arte aos atores e dublês.
É delicada a distinção entre apropriação cultural e a admiração e reverência sinceras.
Como artista visual e psicoterapeuta apaixonado pelas mais variadas tradições seculares e histórias mitológicas, acredito que toda Cultura deve ser conhecida e compartilhada.
No Brasil, é comum caucasianos reverenciando o Candomblé, afrodescendentes praticantes de tai-chi-chuan, orientais atuando com xamanismo…
Várias de minhas pinturas e fotografias representam a pluralidade cultural de que somos compostos. Uma das telas que estará na Exposição Diversidade, é a African Gioconda, onde temos a beleza da etnia afro estampada tanto em uma moderna Mona Lisa, quanto nos grafismos, inspirados nos tecidos artesanais africanos.
Making Of – Arte Em Tempo Real – Performance do Artista Henrique Vieira Filho com pintura corporal e projeções de grafismos étnicos. Ensaios para novas pinturas em tela da Coleção Giocondas.
A miscigenação é uma das marcas de nosso país, inclusive, nas Artes: nossas músicas, danças, culinária, literatura, língua
Um ótimo símbolo de integração cultural é o nosso brasileiríssimo Saci: de nossos índios, ele herdou o poder de comandar o vento e a magia, enquanto os europeus lhe presentearam com a baixa estatura, as travessuras e o gorro vermelho dos trasgos (duendes) e, por fim, nossos afrodescendentes acrescentaram a esperteza, a cor da pele e a perda de uma das pernas, de tanto jogar capoeira.
Em tupi-guarani, “perereca” é designação para tudo que se locomove aos saltos.
Já o termo “saci” é uma onomatopéia, ou seja, uma palavra idêntica ao som a se descrever, no caso, o canto (que também é seu nome…) de um certo pássaro muito arisco, difícil de ser visto, fácil de ser ouvido, enquanto exclama, continuadamente: _ “Sa.. ci… sa…ci… sa…ci…”.
Neste dia 20/11/2021 (sábado), às 10hs, no Mercado Cultural (Serra negra/SP), teremos algumas destas histórias, pinturas e fotografias, além de uma apresentação de capoeira, tudo com entrada franca. Você, leitor, é nosso convidado!
Homenagem ao Dia Da Consciência Negra, com a Exposição “Diversidade”: Abertura às 10hs, dia 20 de novembro de 2021, no Mercado Cultural: Praça XV de Novembro – Estância Suíça, Serra Negra – SP – Entrada franca
A exposição permanece aberta do dia 20 ao 25 de novembro
Henrique Vieira Filho homenageia o Dia Da Consciência Negra por meio da Exposição Diversidade, no Mercado Cultural, em Serra Negra / SP, unindo artes plásticas e artes marciais, participando, inclusive, da roda de Capoeira promovida pela Academia Raça e Fundamento.
Artigo publicado originalmente no Jornal O Serrano, em 12 de novembro de 2021 – 6280 – CXIII
Sendo um homem branco, não tenho autoridade para abordar este tópico sobre certos aspectos que só um afrodescente tem propriedade e a experiência de quem realmente vive a questão em seu dia-a-dia.
Por outro lado, como artista plástico apaixonado pelas mais diversas culturas milenares, posso prestar minhas sinceras homenagens e admiração ao Dia Da Consciência Negra (20 de novembro), por meio da Exposição Diversidade, a qual, neste ano, será em Serra Negra / SP, com entrada franca.
Bem sei que muitos artistas focam nas adversidades e buscam denunciar por meio de suas obras, mas, eu prefiro focar na beleza das cores, das formas e das tradições populares, em especial, por meio de figuras femininas, empoderadas e, na maioria das vezes, representando figuras icônicas ou fascinantes personagens mitológicos.
Por defender que todas as culturas merecem ser compartilhadas e experienciadas, retrato por fotografias e pinturas temas indígenas, orientais, europeus e afros, sem distinção e, eventualmente, até miscigenando, tal qual ocorre na população de nosso Brasil.
Claro que, nesta exposição, em especial, selecionei as obras que homenageiam a Cultura Afro, como os exemplos que se seguem, em imagens e histórias:
Mermaid Kianda (gravura acrílica sobre tela) – inspirada na mitologia angolana, esta sereia concedia desejos de riquezas e, caso o beneficiado agisse com avareza, seria condenado à eternidade no fundo do oceano, às vezes, levando junto toda a aldeia. Esta pintura já esteve em exposições em Madri, Barcelona e Viena.
Indomitable (gravura acrílica sobre tela) – obra do acervo particular da grande cantora Aline Wirley, gentilmente cedida para esta Exposição. Esta tela é composta por texturas de asas de borboleta, penas de aves, ambas africanas, assim como os grafismos e tatuagens pintadas sobre a pele desta poderosa guerreira.
“The Goddess Of The Seas” (gravura acrílica sobre tela) – inspirada nas tradições afro-brasileiras, em especial, Iemanjá, a obra retrata a rainha do mar, deusa protetora, maternal e, ao mesmo tempo, senhora da força da natureza das águas, implacável quando necessário.
Tela: Birth Of The Saci Artista: Henrique Vieira Filho
Tela: African Aphrodite Artista: Henrique Vieira Filho
Tela: African Gioconda Artista: Henrique Vieira Filho
Tela: Decipher Me Artista: Henrique Vieira Filho
Série Diversidade
A Série Diversidade é composta por Fotografias Fine Art, muitas das quais integram o livro “Les Brésiliens vus par les Brésiliens” (Os Brasileiros vistos pelos Brasileiros), com lançamento no Salão do Livro de Paris, em março de 2016.
Nesta Série, o biotipo étnico de cada indivíduo, ainda que possa predominar em uma direção, jamais nega a miscigenação de nosso povo e nunca limitará sua visão de mundo.
A orientação de vida de cada um transcende a própria tradição étnica ancestral.
Henrique Vieira Filho desenvolveu padrões gráficos baseados em tribais indígenas brasileiros (especialmente, artesanatos marajoaras…), africanos, orientais, célticos e, até mesmo, modernos grafites urbanos, os quais foram projetados (literalmente, via projetor…) tendo a pele como tela. Eventualmente, incluiu pintura corporal, como reforço à proposta étnica.
Fotografia Fine Art: African Marajoara Artista: Henrique Vieira Filho
Fotografia Fine Art: African Chinese Artista: Henrique Vieira Filho
Fotografia Fine Art: African Celtic Artista: Henrique Vieira Filho
Fotografia Fine Art: African Celtic Artista: Henrique Vieira Filho
Fotografia Fine Art: African Chinese Artista: Henrique Vieira Filho
Estejam todos convidados a prestigiar o Dia da Consciência Negra, visitando a Exposição Diversidade, onde poderão ver de perto as obras acima e muitas outras mais:
Abertura às 10hs, dia 20 de novembro de 2021, no Mercado Cultural: Praça XV de Novembro – Estância Suíça, Serra Negra – SP – Entrada franca A exposição permanece aberta do dia 20 ao 25 de novembro*
Henrique Vieira Filho entrevista três grandes bailarinas originadas do interior do Estado de São Paulo, abordando suas carreiras e a importância da volta dos Festivais de Dança em Serra Negra / SP.
No imaginário popular, em especial, o balé, é algo que só ocorre em grandes centros urbanos e de forma elitizada.
Contudo, ao passear por Serra Negra, podemos constatar várias escolas e academias voltadas a esta arte.
Eu mesmo já me deparei, em diversas ocasiões, com grupos de dança se apresentando pelas ruas da cidade e até em supermercados!
E lembro, ainda, dos Festivais de Dança, que ocorreram de 1992 a 2005 e, simplesmente, desapareceram!
Para entender um pouco mais da história da dança em nossa região e o que podemos fazer para melhorar ainda mais, entrevistei três grandes dançarinas de nossa cidade (em ordem alfabética): Ale Brandini,atualmente no “The Masked Singer BR”, exibido pela Rede Globo, Daiani Fiorire, do Estúdio Fiorire e Dayana Rezende, da Cia de Dança Allegro, da Escola Talento.
Compartilho com os leitores a agradável conversa, a qual encerrarei com uma “provocação” cultural!
Henrique: Nossa região é exceção ou a dança está bem mais disseminada pelo Brasil, do que podemos supor?
Ale Brandini: A dança hoje em dia não está mais tão elitizada como antigamente, onde as crianças eram inseridas na dança somente através do ballet clássico!
Hoje, elas também podem ser inseridas em outros diferentes contextos e estilos, como as danças urbanas por exemplo, o que está sendo ótimo para essa propagação em pequenas e grandes cidades do Brasil.
Daiani Fiorire: A nossa região não é uma exceção, a dança está bem mais disseminada pelo Brasil, certamente.
Acredito que Serra Negra poderia dar mais visibilidade, para mais artistas. Sempre são os mesmos artistas, fazendo as mesmas coisas pela cidade durante anos. Ultimamente, esse cenário tem mudado um pouco, mas ainda assim segue sendo praticamente o mesmo.
Dayana Rezende: Em nossa região, um marco foi o Adágio Instituto de Dança, da professora Mariângela Maganha, que ensinou por cerca de 35 anos e a dança contou grande incentivo municipal, em especial, no período em que a cidade esteve sob a gestão do prefeito Bimbo, a quem sou muito agradecida.
Henrique: Você, sendo uma serrana, uma pessoa do interior, o que lhe levou ao balé, à dança?
Ale Brandini: Fui incentivada pelos meus pais desde pequena que me colocaram nas aulas de ballet ainda no ensino infantil dentro da escola onde eu estudava! A partir daí nunca mais parei, e com o passar dos anos fui procurando um ensino adequado dentro do que eu queria para a minha dança.
Daiani Fiorire: Mais do que ser serrana ou uma pessoa do interior, a dança foi um caminho que escolhi para minha vida. Iniciei na ginástica artística, em um projeto social na cidade e depois minha mãe, Clarice, me apresentou o balé clássico. Me apaixonei e depois nunca mais parei de me especializar na dança.
Dayana Rezende: É como se já nascesse com essa “sementinha” da dança, desde criança, dançava pela casa, falava de balé e queria ser bailarina. E teve uma amiguinha que fazia balé no Rio de Janeiro e me contou sobre as aulas, mostrou os passos e aquilo despertou ainda mais a vontade. Na mesma época, o colégio Reino trouxe uma professora de balé que deu aula para nós durante um ano e, logo a seguir, comecei as aulas no Adágio Instituto de Dança.
Henrique: Todo artista sonha em ter o justo retorno financeiro exercendo o que ama. Como você atingiu a profissionalização? É necessário migrar para os grandes centros urbanos? É possível viver bem de sua arte, trabalhando em Serra Negra e região?
Ale Brandini: Me formei em Dança pelo curso técnico do Conservatório Musical de Amparo e sempre fiz muitas aulas, workshops e cursos de férias fora da cidade, principalmente depois de formada. Sempre me coloquei em muitos estilos diferentes de dança pois penso que hoje em dia, para trabalhar e ter sucesso você precisa entender e ter todas as danças em você e não ser apenas muito boa em um único estilo. No meu caso fiquei em Serra Negra por anos ministrando aulas, mesmo já fazendo grandes trabalhos profissionais fora. Mas teve um momento que senti sim a necessidade de migrar, pois eu queria estar completamente inserida no que eu queria desenvolver para o meu futuro, que não era apenas ministrar aulas e coreografar festivais. Mas acho que cada um tem a sua verdade dentro da sua dança e o seu propósito de vida. Então também acho que da pra viver da dança no interior sim, porém visando um ensino bom e verdadeiro aos alunos, dentro de academias e projetos sociais.
Daiani Fiorire: Eu busquei a profissionalização fora de Serra Negra, posso dizer que aqui foi uma base e depois migrei para vários locais e estados.
Viver da arte aqui em Serra Negra já foi mais complicado. No momento que você começa a se valorizar, as perspectivas mudam e o modo como as pessoas te veem também. Há anos foi disseminado uma tendência aqui na cidade de que os artistas trabalham de graça. Eu, junto a Fiorire, alunos, pais e responsáveis, não trabalhamos dessa forma. Amamos a dança, fazer arte, mas assim como todo trabalho, ele deve ser valorizado e honrado como deve ser.
Dayana Rezende: Hoje em dia, tem até faculdades online, ou bem perto, em Amparo, mas na minha época tinha que estudar longe e assim fiz a minha graduação em educação física e pós-graduação em dança, em São Paulo. As escolas de referência e os exames de graduação continuam nos grandes centros urbanos.
É possível, sim, viver da nossa profissão aqui na cidade! Sempre estou incentivando as minhas alunas. Com 14, 15 anos eu já era assistente de baby class e logo comecei a dar aula e é assim, também, com as minhas alunas desta idade, já atuando como assistentes e me ajudando eu ensinando e levando para cursos de especialização para trabalhar com o balé infantil e assim vai começando, vai nascendo uma carreira.
Henrique: Para quem quer começar na dança, seja como lazer, seja por eventual interesse como profissão, quais dicas você daria?
Ale Brandini: Dedicação e amor! Pois assim, tanto por lazer, realização pessoal ou interesse profissional você encontrará a verdadeira excelência da dança dentro de você, e isso se torna alegre e prazeroso. Cada pessoa tem um limite físico e emocional e hoje em dia, não vemos mais um ensino tão duro quanto antigamente! A dança é para quem quiser usufruir de seus benefícios, seja com qualquer corpo, idade, gênero ou classe social. E dentro do nível que cada pessoa escolher para ela, mas a dedicação fará toda a diferença, e se ela ou ele tiver esse dom de expressar a sua verdade através da dança por prazer e realização, a dedicação não se torna uma obrigação e sim um estilo de vida que estará presente para sempre!
Daiani Fiorire: Quando falamos em aprender algo, para mim, a disciplina, amor, e a constância são as melhores formas de se chegar ao êxito e claro, acreditar em você.
Dayana Rezende: Em primeiro lugar, se dedicar muito às suas aulas, estudar em uma escola de balé que tenha os exames de graduação, pois são muito importantes para quem deseja seguir carreira.
Henrique: A imagem de uma atividade elitista, em parte, se deve ao fato de ter que investir em aulas, acessórios, dedicação, implicando em custo financeiro e de tempo, recursos estes escassos para famílias de baixa renda. É possível, para pessoas de baixa renda, ingressar no universo da dança? De que forma?
Ale Brandini: Acredito que hoje em dia os pequenos e grandes municípios ofereçam muito mais projetos que visam inserir as crianças carentes e de baixa renda em atividades culturais e esportivas. Como disse anteriormente, as crianças podem e devem ser inseridas na dança através de outros tipos que não sejam apenas o clássico, que já tem historicamente muitas regras e bloqueios. Isso também facilita a inserção de todos os gêneros na dança e não somente de meninas!
Daiani Fiorire: É possível, a dança, não somente o Ballet Clássico já vem rompendo com essa estrutura elitizada. Inclusive, a Fiorire desenvolve projetos sociais através da prefeitura de Serra Negra, onde crianças de baixa renda tem acesso às aulas gratuitas. E em muitas escolas do Brasil, há possibilidade do aluno ingressar com bolsas parcial ou integral.
Dayana Rezende: Para quem não tem condição de pagar uma escola particular, nossa cidade tem muitos projetos gratuitos, através da prefeitura, tanto para crianças, quanto para jovens, como para adultos. E não só com aulas de balé clássico, como também de danças urbanas e outros estilos.
A Cia de Dança Allegro da Escola Talento já forneceu bolsas a alunos que começaram com as aulas no CRAS – Centro de Referência de Assistência Social e demonstraram empenho e interesse em se aperfeiçoar.
Henrique: Recentemente, ocorreu o 38º Festival de Dança de Joinville.
Serra Negra já realizou mais de dez festivais de dança, de 1992 a 2005. Como eram estes eventos? Por que foram interrompidos?
Ale Brandini: Participei de alguns Festivais da Primavera em Serra Negra. Que me lembre, eram Mostras de Dança e não competições, como em Joinville. Sinceramente, não me lembro se os grupos se inscreviam gratuitamente ou não. O festival cresceu ao ponto de não conseguir ser feito nas instalações do SNEC – Serra Negra Esporte Clube e migrou para o Centro de Convenções. Acredito que deve ter sido interrompido por não ter conseguido se sustentar pelo formato de Mostra, não ter taxas, se tornando inviável. Mas, deixo claro que são vagas lembranças, nessa época me apresentava apenas como bailarina intérprete dentro do Grupo do Conservatório.
Daiani Fiorire: Quando criança me lembro que haviam mais apresentações. Os festivais de dança no clube eram muito comuns, mas também somente uma parte da população tinha acesso devido ao valor dos ingressos. Acredito que foram interrompidos devido à recursos financeiros e pelo Covid.
Dayana Rezende: Quando comecei a dançar, ainda criança, havia o Festival da Primavera, com a apresentação de grupos do Circuito Das Águas e de outras regiões de São Paulo.
No início, eram eventos competitivos, depois, viraram Mostras de Dança. Aconteciam no SNEC – Serra Negra Esporte Clube, sendo as últimas edições já no Centro de Convenções, tendo sido assumidos pela Prefeitura.
Ninguém sabe ao certo por que foram interrompidos!
Henrique: O quepode ser feito para que Serra Negra se transforme em uma nova Capital Da Dança?
Ale Brandini: Pessoas locais ligadas à arte interessadas em encabeçar um novo projeto inteligente e sustentável que utilize os espaços físicos oferecidos pela cidade.
Daiani Fiorire: Acredito que seja um pouco difícil isso acontecer, mas não é impossível. Porém, antes de pensarmos em uma escala maior, se os órgãos públicos da cidade valorizassem mais o nosso trabalho e dessem oportunidades para outros artistas trabalharem na cidade, isso já seria um bom começo.
Dayana Rezende: Serra Negra, por todo esse crescimento em relação à dança, já está se tornando uma referência aqui dentro do Circuito das Águas, além de ser a única cidade da região que tem um teatro que comportaria a volta dos festivais!
Os próprios profissionais de dança da região, que já participam de festivais, como este recente, em Joinville, podem ajudar na elaboração deste projeto e na captação de jurados “de peso”, organizar por estilos de dança…
Nosso teatro só precisa de manutenção e terminar os camarins e a rede hoteleira é ampla o suficiente para receber os bailarinos, seus familiares e todo o público aficcionado.
Temos estrutura para receber um grandioso festival e seria muito bom para a cidade, tanto na área da cultura, quanto do turismo! Seria, assim, um passo gigantesco!
Henrique: Agradeço a vocês pela participação e parabenizo pela dedicação às Artes, ainda mais nestes períodos recentes de isolamento!
Mais do que fazer bem à nossa alma, as atividades culturais igualmente beneficiam e movimentam a economia, gerando novos postos de trabalho, atraindo milhares de turistas, lotando hotéis, restaurantes e o comércio.
Já contamos com os artistas e com a infra-estrutura, por isso, lanço o desafio: que voltem os Festivais!
Biografias (em ordem alfabética):
Ale Brandini é coreógrafa, professora e bailarina com formação em Dança pelo Conservatório Musical Integrado de Amparo.
Com experiência e domínio em ballet, jazz, danças urbanas, dança de salão e ballroom dance. Ministra aulas a mais de 20 anos.
Atuou como ensemble no Musical “Mamonas o musical”. Dançou com inúmeros nomes da música brasileira e coreografou shows e clipes musicais. Fez parte do quadro de profissionais do programa de dança “Dancing Brasil” da Record TV, desde a primeira temporada e atualmente é assistente de coreografia do programa.
Atualmente fez parte do elenco de bailarinos do programa “The Masked Singer BR” exibido pela Rede Globo.
Coreografa os musicais da nova novela do SBT (Poliana Moça)
Daiani Fiorire é bailarina profissional registrada pela Delegacia Regional do Trabalho (DRT) e graduada em Dança pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS). Professora-Artista e Pesquisadora em Dança, atua legalmente e profissionalmente na área da Dança há 9 anos.
“Desenvolvo a dança para além da atividade física, per se, mas como uma escolha em levar a vida mais leve e enérgica prezando a responsabilidade e o cuidado em manter a sua própria essência em movimento.”
Dayana Rezende é bailarina profissional, formação: Grade Advanced da Metodologia Royal Academy of Dance (Escola Lina Penteado/ Campinas), pela Metodologia Cubana pelo Pas de Cuba, Cuballet e Escola Paula Castro, Formação Metodologia Vaganova, pela Escola Bolshoi Joinville, em andamento.
Graduada em Educação Física pela Fesb, Pós-Graduada em Dança e Consciência Corporal pela Gama Filho (São Paulo). Bailarina Clássica e professora de Dança a 20 anos, já atuou em várias escolas e projetos sociais da cidade de Serra Negra e região, entre elas, Academia Ponto da Dança (Amparo), Adagio Instituto de Dança (Serra Negra e Águas de Lindóia), projeto e associação Fazendo Arte (Amparo).
Professora do Projeto de Ballet Clássico do CRAS da Secretaria de Assistência Social de Serra Negra e professora de Dança do Grupo da Melhor Idade, há doze anos.
Coreógrafa, fundadora e diretora da Cia de Dança Allegro da Escola Talento, na cidade de Serra Negra, já somam doze anos, representando a cidade em Festivais de Dança e Eventos pela região e outras localidades.
A Arte está tão inserida no cotidiano, que nem sempre nos damos conta de que dela estamos usufruindo.
No isolamento que a pandemia impôs, quanto alívio emocional foi proporcionado com a leitura de livros, ao assistir filmes, seriados, novelas, ouvir músicas…
Até mesmo as pessoas que perderam seu sustento podem ser beneficiadas com as Artes, considerando que este setor já criou cerca de 01 milhão e 500 mil postos de trabalho, no ano em que a pesquisa mais recente foi realizada. (Fontes: IBGE, diretoria de pesquisas, Cadastro Central de Empresas – 2003).
Nem todos percebemos que, para um artista trazer a público o seu trabalho, abre-se vagas para um grande contingente de outras profissões: recepcionistas, equipe de transportes, equipe de montadores, eletricistas, pessoal da limpeza, setor de hospedagem e alimentação, carregadores, organizadores de eventos, fotógrafos, cinegrafistas, equipe de informática, publicitários, equipe gráfica, contadores, seguranças e mais uma infinidade de eventuais vagas de trabalho.
Devemos somar, ainda, que público que vem ao evento cultural também irá se hospedar, se alimentar, passear pelos arredores, comprar alguma lembrança, enfim, consumir tudo que puder, como é de praxe quando o objetivo é o turismo e o lazer! Até o mais singelo ambulante pode salvar seu dia, com o consumo extra de “comes e bebes” na entrada e saída das apresentações!
Mesmo o tão subestimado (por nós, brasileiros…) setor de artes visuais (museus, exposições de pinturas, esculturas e fotografias), somado ao de jornais e revistas, movimentam cerca de 700 bilhões de dólares, por ano, em todo o mundo, gerando incontáveis empregos.
Como exemplo recente de renda gerada pela Cultura, podemos citar o 38º Festival de Dança de Joinville: 270 mil espectadores, cerca de 9400 inscritos e mais de 3000 vagas em cursos de arte. Por sinal, a Cia Allegro representou Serra Negra, com a coreografia “Desencontros”!
O ganho cultural foi imensurável, além do financeiro: nem é preciso ser economista para concluir o bem que fez aos hotéis, restaurantes e comércio da cidade e todos os novos postos de trabalho que foram criados, graças a toda esta movimentação criada pelas Artes!
Segundo o próprio governo federal, a cada R$ 1,00 disponibilizado por meio das leis de incentivo à Cultura, R$ 1,59 são gerados para a economia do país (Fonte: MinC – Ministério da Cultura e FGV – Fundação Getúlio Vargas – 2019). Ou seja, ao investir em artes, o governo consegue um retorno de 59% para a população!
Quando o povo critica o envio de verbas públicas a eventos culturais, certamente focam nos poucos artistas que estão muito bem de vida e que já contam com o patrocínio de grandes empresas privadas.
A realidade da imensa maioria dos artistas brasileiros é bem distante disso. Não raro, nem cachê recebem, trabalhando mais pelo amor ao ofício!
E assim foi, por exemplo, aqui mesmo, em Serra Negra, no ano passado, justamente no Dia da Cultura (05 de novembro), em uma bela parceria em que a Prefeitura disponibilizou o palco do Centro de Convenções para o Projeto Re Arte – Circuito Das Águas, em que tivemos exposição de artes plásticas (Henrique Vieira Filho e Elisabeth Canavarro), dança (Cia de Dança Allegro, da Profa. Dayana Rezende), poesia (Camila Formigoni), artes cênicas (Breno Floriz) e vivência de qualidade de vida (Fabiana Vieira).
Tudo isso bem na época das restrições de saúde mais rigorosas, sem poder receber o público, sem verba, estes artistas se apresentaram, ao vivo e em reprises gravadas, trazendo um pouco de alegria em um período tão difícil para todos…
“Temos a arte para não morrer ou enlouquecer perante a verdade. Somente a arte pode transfigurar a desordem do mundo em beleza e fazer aceitável tudo aquilo que há de problemático e terrível na vida”.
Daqui a poucos dias, um ilustre serrano faria 100 anos: Ary Vieira.
Na verdade, faltou pouco: faleceu em 2017, uma semana antes de receber mais uma justa homenagem, com direito à Banda Lira (ele adorava…), por ter sido um dos combatentes da Força Expedicionária Brasileira.
Foi filho de Durvalino Vieira de Moraes, agora também eternizado em Serra Negra, com a recente inauguração da placa que inclui seu nome, em honra à Revolução Constitucionalista de 1932.
Meu tio Ary merece ser lembrado mais do que pela espada, e sim, pela caneta: era um desenhista de mão cheia, com belas obras feitas com precisão de bico de pena, em nanquim.
Gosto de pensar que foi dele que herdei o amor pelas artes plásticas, por isso, mesclei os traços dele com os meus, nesta pintura que foi baseada em uma antiga foto em que estão em sua mesa no Serra Negra Esporte Clube, que sempre frequentaram, por estar a poucos passos de onde ele morava com a minha prima Vera e minha tia Arthema.
Inúmeras medalhas e honrarias ele ganhou como guerreiro… Penso que ele deveria ter recebido outras mais, só que por outro motivo: ser uma pessoa feliz e em paz, APESAR da guerra!
As lembranças que tenho são dele sentado no banco da Praça João Zelante, de braços cruzados, vendo a banda passar (literalmente…), ao lado de sua esposa e filha, tricotando lãs e prosas.
As memórias que guardo mostram um homem que se divertia no carnaval serrano, criava suas próprias fantasias, vestindo camisetas com os dizeres da marcha “A Maré Tá Cheia”, que compôs com seus amigos (um plágio! tsc, tsc…).
Quando criança, eu o observava criando tracejados e sombreados, com lápis e tinta, até os desenhos formarem paisagens e animais, com uma paciência que parecia infinita, tamanha era a lentidão que o processo criativo exigia.
O desenhista Ary era o contraponto perfeito a compensar o seu lado soldado!
Vai ver, meu tio foi o precursor do “Slow Movement” (Movimento Sem Pressa), tão em moda atualmente, onde o que se busca é aproveitar melhor a vida, sem a ansiedade dos grandes centros urbanos, que tem conduzido à migração de volta ao campo, para melhorar a qualidade de vida. O que, por sinal, foi o que fiz já faz 03 anos, mudando de volta para as minhas raízes serranas!
A humanidade, desde sempre, cultua o heroísmo, erguendo estátuas e monumentos aos grandes guerreiros e isso é natural.
Igual honraria deve ser reservado à chamada “vida cotidiana”, onde cada um de nós vence as suas batalhas diárias e desfruta do que realmente importa: amor, amizade, saúde, trabalho e… diversão! Uma das coisas que, secretamente, fazia o Ary rir, é que TODAS as medalhas, placas, diplomas em sua honra estão com seu nome… ERRADO!
Ele nunca foi Ary CAREI Vieira! Este sobrenome ele “emprestou” do ator americano Harry Carey Jr!
Nascido no mesmo ano que meu tio, em 1921, ganhou fama mundial com seus mais de 90 filmes de “faroeste” e o Ary brincava com a semelhança sonora entre seus nomes.
E é assim que escolho lembrar dele, neste seu centenário: um homem que prefere não perder a piada, por nada deste mundo!
No Dia Cultura, 05 de novembro, a partir das 14hs, no Centro de Convenções Circuito das Águas (Rua Nossa Sra. do Rosário, 630 – Serra Negra – SP), a Sociedade Das Artes e o Artista Plástico e Psicanalista Henrique Vieira Filho convidam ao Projeto Re Arte – Circuito Das Águas, para provar que todas as Artes se complementam: Artes Visuais, Teatro, Música, Holismo e Literatura
Henrique Vieira Filho – Artista Plástico – coordenador do Re Arte
Cia de Dança Allegro da Profa. Dayana Rezende
Elisabeth Canavarro – Artistas Plástica
Camila Formigoni e Breno Floriz – Poesia
Revista Artivismo – Literatura
Fabiana Vieira – Qualidade de Vida
O evento será transmitido (ao vivo e com reprises) nas redes sociais (Facebook, Youtube, Instagram), com a presença física limitada aos jornalistas, artistas e autoridades municipais.
Um espetáculo com excelente visual para registro em fotos e vídeos, comemorando o Dia Da Cultura, com total segurança. Afinal, o isolamento deve ser físico e jamais cultural: a Arte é fundamental para a harmonia mental em tempos de pandemia!
Dentre os vários “crossover” de Artes e Artistas, seguem alguns destaques:
A Cia de Dança Allegro, da Profa. Dayana Rezende apresentará coreografia inspiradas nas pinturas de Sereias, de Henrique Vieira Filho e este retrata a bailarina como Yara, deusa dos rios:
A poesia “Casulo”, de Camila Formigoni será interpretada pelo ator Breno Floriz e transposta em pintura a óleo por Henrique Vieira Filho:
– Preciso desse casulo! Não quero me tornar uma borboleta, me contento em ser pupa. Está de bom tamanho…. Chorona, você é muito boba! Você já é borboleta. Os dois se abraçaram. Ela finalizou:- Sou lagarta. Preciso me alimentar e em breve estarei ausente, envolta em meu casulo.…era em alguns momentos lagarta e em outros uma borboleta, mas, nunca havia sequer imaginado sua ausência, em um casulo…
A Revista Artivismo (edição de estréia, online) reúne Artigos e Crônicas, inspiradas em algumas das artes plásticas de Henrique Vieira Filho e este, em contrapartida, ilustra as páginas literárias com suas pinturas:
O Projeto Re Arte está na sua 3a edição, desta vez, migrando de São Paulo para Serra Negra/SP, abrindo oportunidade para as Artes de todas as cidades do Circuito Das Águas.
MUITO MAIS QUE UMA EXPOSIÇÃO: Dança, vivências de imaginação dirigida, artes visuais e muitas outras interações artísticas! Releituras de todos os tipos de Artes!
O Projeto Re-Arte nasceu da “provocação” da crítica-suprema, Aracy Amaral, que interpreta o momento como sendo “crise” na Arte Contemporânea:
“Artistas hoje são mais editores que criadores. Eles se apropriam de imagens de televisão, histórias em quadrinhos, de pequenos desenhos que saem nos meios de comunicação de massa, de celulares e editam formas.”
Sendo ou não “crise”, já está duradoura o suficiente para que seja admitida e estudada, bem como ter seu justo espaço junto às instituições oficiais voltadas às Artes.
No Artigo “Erro Na Terapia”, compreendermos o porque de tantas reportagens sobre abusos cometidos por “profissionais” da área.
Complementando, em “Qualidade de Vida e Indicador Profissional”, tanto o público pode requisitar indicações de Terapeutas com CRT, quanto os Profissionais podem soliictar Cursos de confiança e qualidade!
Desta forma, com certeza, se evita os “erros” abordados no outro tópico!
Na pauta “Jovem Donzela”, vamos conhecer e aprender com a sabedoria deste Arquétipo, essencial em nossas vidas pessoal e profissional.
E damos as boas-vindas à mais recentes articulista, a Ana Cespedes, que nos brinda com a técnica: “Ventosaterapia”.
“Quando a lenda é mais interessante que a realidade, imprima-se a lenda!”, já dizia o jornalista, no filme: “O Homem Que Matou o Facínora”, nos anos 60.
Aqui no Brasil, nos anos 40, tivemos “O importante não é o fato, mas a versão”, atribuído ao mineiro Benedito Valadares, que teria plagiado outro político, José Maria Alkmin.
Outrossim, o pioneiro no tema, parece ter sido o romancista francês Georges Duhamel, que escreveu, em 1918: “Como toda pessoa séria, não acredito na verdade histórica, mas na verdade da lenda”.
Minha sucinta pesquisa quanto a ser Serra Negra chamada de “hérã-n-yeré” (“algumas voltas”, pelo tanto que teriam que rodear as nossas montanhas…) por seus habitantes originais, os Kayapós, não encontrou respaldo, nem quanto à ocupação da tribo, nem quanto ao termo linguístico.
Sério que sou, adoto e imprimo… a lenda! Mais do que isso, eu a amplio: foi em Serra Negra/SP que os primeiros Mebêngokrês vieram dos céus e se estabeleceram na terra!
Chamados pelos demais indígenas de Kayapós (“caras de macaco”, devido a alguns de seus trajes ritualísticos… ou será que já era bullying?…), suas aldeias eram no céu, até que, ao perseguirem um tatu em sua toca, descobriram que havia um buraco para o nosso mundo. Prepararam uma longa corda e por ela migraram, até que, discordando dos rumos, um dos seus a cortou, dividindo o povo entre céu e terra.
Tudo isso aconteceu, bem aqui, no Circuito das Águas Paulista! Por isso, chamam a si mesmos de Mebêngokrês (“os homens do buraco / lugar d’água”).
Mesmo depois da corda ter sido cortada, ainda teve ao menos uma migrante de destaque: a índia Nhokpôktí, que desceu junto com as chuvas (de quem era filha…) e, depois de um certo tempo, cansada de comer as mesmas coisas aqui na terra, fez com que seu marido a catapultasse de volta aos céus, de onde voltou com inúmeras frutas e legumes, ensinando a todas as índias a cultivar.
Tudo isso aconteceu bem aqui, em Serra Negra! E eu tenho a prova: esta fotografia que tirei, de Nhokpôktí, em uma de suas idas e vindas entre céu e terra, aqui com as montanhas serranas ao fundo!
Title: Kayapó Cosmology Artist: Henrique Vieira Filho Mixed media on canvas Size: 60 x 90 cm – 23,6 x 35,4 inches Year: 2020
Title: Mogiana Train Artist: Henrique Vieira Filho
Em sintonia com a temática do momento, proposta pela revista Meridiano de Sentidos, contarei um pouco sobre meus antepassados que viveram no Circuito Das Águas Paulista.
Por parte de pai, muitos dos Vieiras, Fiorittis, Corbos, cá ainda habitam e são sobrenomes mais conhecidos na região. Porém, nesta crônica, focarei na linhagem materna.
No século 19, vindos da Itália, Francisco Rimonato e Ângela Augusta Gio Batta (meus bisavôs), desembarcaram em Santos, viajando em um dos muitos navios a vapor que foram pontes da imigração européia a abastecer as lavouras de café.
Em mais vapor, o das “Marias Fumaças”, seguem até a cidade de Amparo/SP, onde se casam e tem Emma, a primeira de 10 filhos.
Nesta tela, recém pintada, retrato a mim mesmo, minha esposa Fabiana e filha Luiza, nos papéis dos antepassados citados.
Na obra, a Estação Alferes Rodrigues, Ramal de Serra Negra: fundada em 1889, ano em que nasceu, minha avó materna, Emma Rimonato. A imagem baseou-se em fotografia de 2015, de autoria de Marcelo Tomaz, idealizador do Projeto Estações Brasileiras.
A “Maria Fumaça”, steampunk e surrealista, em simbiose com o Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret, simboliza o êxodo da família, saindo do Circuito Das Águas, para São Paulo – Capital, no Século 20, em busca de oportunidades econômicas e o retorno, já no Século 21, para Serra Negra/SP, em busca de melhor qualidade de vida.
Do vapor dos navios, passando pela fumaça dos trens e à poluição dos automóveis e aviões, três séculos, quatro gerações, entre idas e vindas, Europa – Brasil, Capital – Interior, completam mais um ciclo da jornada heróica familiar, antes, plantando e colhendo café e, agora, finalmente, degustando esta bebida, que tanto aprecio e, em breve, divulgarei uma nova pintura, sobre o nosso cafezinho!